quarta-feira, 8 de setembro de 2021

 

LAMENTAÇÕES PÓSTUMAS DE UM MURO

Eu já morri há um tempinho. Morri de morte matada. Isto é: fui assassinado. O executante, homem insensível, avançou sem peias com uma máquina destruidora e a primeira a levar foi uma linda árvore cheia de flores que se roçava em mim sempre que uma brisa nos aconchegava. Ficou lamentavelmente desramada. A seguir fui eu que sucumbi empurrado como se nada fosse. A este executante não lhe fiquei com ódio pois é um assalariado e o que lhe interessa é o dinheiro. O mandante, o verdadeiro responsável, foi o maioral cá do burgo que possivelmente levado por patranhas mas, também não quis ouvir outras opiniões, deu ordem que me sacrificassem. E, uma ordem dele é suprema.

Ora, eu nasci legalmente com a bênção de um antigo presidente da junta que não só autorizou como recomendou que eu nascesse. Há um documento que atesta esta veracidade. Assim, vim ao mundo com o dinheiro que alguém disponibilizou; dinheiro esse que se finou comigo. Isso não o incomoda senhor Maioral?

Eu era um muro orgulhoso que delimitava o espaço público de um campo de cultivo. Servia de anteparo às pessoas que se encostavam a mim em amena cavaqueira. O senhor maioral com certeza viu-me antes da condenação e também devia ter visto como esta rua está degradada com prédios em ruina e paralelepípedos esquecidos encostados a uma parede. Um maioral que não olha de igual modo para um todo não merece o lugar que ocupa.

E já agora, o senhor já veio ver como ficou a obra? esta sim, deve estar eivada de ilegalidade.

Enfim, agora jazo debaixo de terra, pedras e amianto, sim meu senhor leu bem AMIANTO e isto tudo para agradar a alguém que nem vive cá e passa 15 dias de férias por ano. Procedeu mal. Muito mal!

Victor Serra

 

 

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